Monsenhor Tabosa: Famílias de crianças com TEA cobram cumprimento de promessas da gestão na Câmara municipal


*Nota: A matéria esta sujeita a reedição

Na sessão da Câmara Municipal do município de Monsenhor Tabosa, nesta quinta-feira, 06/11, mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ocuparam a câmara para expor as falhas no atendimento público e exigir respostas concretas. Edna, que falou em nome do grupo, destacou que a fila de espera no CAPS ultrapassa quatrocentas crianças — número que não inclui as que ainda aguardam diagnóstico — e que há total ausência de terapeuta ocupacional na rede municipal. O único fonoaudiólogo contratado atua apenas quatro horas semanais, o que torna inviável o acompanhamento contínuo necessário.

Ela relatou que, mesmo após promessas de reforço na equipe, não houve avanço visível: as mães continuam a buscar atendimento em cidades vizinhas, custeando deslocamento e sessões particulares, muitas vezes em regime de rodízio, para tornar o processo menos oneroso. Segundo ela, a remuneração oferecida pelo município é incompatível com o mercado, inviabilizando a atração de profissionais qualificados, sobretudo para o interior. A falta de estrutura compromete o desenvolvimento das crianças e sobrecarrega as famílias, que se veem sozinhas em uma rede que deveria ser de apoio.

Edna também chamou a atenção para o descumprimento de leis já aprovadas — como a que prevê redução de carga horária para mães de filhos com necessidades especiais. Apesar de um edital ter sido publicado em julho, nenhuma Junta Médica foi convocada até então, e muitas mães permanecem com acordos informais, sem garantia jurídica. Para ela, aprovar normas não basta: é preciso fiscalização rigorosa, algo que, segundo seu relato, tem faltado aos vereadores (as). “Se vocês não cobram das próprias leis que criaram, quem fará isso?”, questionou.

O presidente da Câmara, Carlinhos do Marcondes, reconheceu publicamente a gravidade do exposto e reforçou que os vereadores devem atuar como intermediários entre a população e o Executivo — não como assessores da gestão. Ele mencionou que convive pessoalmente com o tema, por ter um neto autista, e assumiu o compromisso de levar as demandas diretamente ao prefeito, com acompanhamento contínuo.

A vereadora Joyce Vasconcelos Domingos, que tem um filho em acompanhamento multidisciplinar (embora ainda sem diagnóstico formal), assumiu responsabilidade pelo descaso do Legislativo. Ela admitiu que o papel fiscalizador foi negligenciado e que a harmonia interna na Câmara não tem se traduzido em diálogo efetivo com o Executivo. “Essa causa não é só de quem está aqui hoje. É de todos nós, e a partir de agora vamos agir com mais firmeza”, afirmou.

A vereadora Marsilvia Almeida acrescentou que diversos projetos já foram aprovados — como o Conselho Municipal de Inclusão e a prioridade em filas para famílias atípicas —, mas nenhum saiu do papel. Ela citou o esforço individual de Lidiane Araújo, psicopedagoga que atua voluntariamente com famílias, professores e cuidadores, e antecipou que protocolaria projeto para torná-la cidadã taboense, em reconhecimento ao seu trabalho constante e desprendido.

O Vereador Diego Madeiro admitiu que o poder de representação dos vereadores tem sido esvaziado por uma postura passiva, sobretudo daqueles que fazem parte da base governista. Ele alertou: “Quando paramos de cobrar, deixamos de ser representantes e viramos espectadores.” Para ele, o povo é quem detém o verdadeiro poder — e situações como aquela, com mobilização coletiva, são capazes de gerar pressão suficiente para que as autoridades respondam.

O Vereador Djair Dão trouxe dados orçamentários para embasar a cobrança: a previsão para a saúde em 2026 é de aproximadamente R$ 30 milhões. Ele lembrou que o projeto da Casa Arco-Íris, pensado para atendimento especializado de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tem orçamento estimado em R$ 750 mil — valor inferior ao que será destinado à Feira Agropecuária, mesmo com patrocínios externos. “Não é falta de recurso, é escolha de prioridade”, disse.

A vereadora Joyce Vasconcelos Domingos, acrescentou que as mães devem levar à próxima reunião com o prefeito não apenas os pedidos imediatos, mas também essas comparações de investimentos, para que possam questionar diretamente as escolhas administrativas. Ela destacou que, mesmo com boa vontade de alguns gestores, a estrutura não avança enquanto não houver decisão política clara.

A ex-vereadora Solange Baltazar reforçou que o momento é estratégico: com a LDO e o orçamento em discussão, é essencial que as demandas estejam formalizadas e contempladas nas previsões. Ela citou dois sobrinhos autistas — um diagnosticado tardiamente, outro com quadro de agressividade que exige cuidados intensos da mãe — para ilustrar a urgência do tema. Para ela, o vereador não é um cargo honorífico, mas um mandato de fiscalização, e há leis aprovadas que simplesmente não foram executadas por falta de cobrança efetiva.

Outros vereadores, Valdemar e Denovan, convergiram no diagnóstico: o problema não é de vontade, mas de atitude. A paciência se esgotou, e é hora de usar todos os instrumentos disponíveis — sessões extraordinárias, ofícios, audiências públicas ou até exposição nas redes sociais — para assegurar que os direitos garantidos em lei sejam efetivados. Denovan, em especial, relatou casos concretos de abandono — como o cemitério do Livramento às vésperas do Dia de Finados, com apenas uma lâmpada funcionando — e disse que, diante do silêncio do Executivo, passará a documentar e divulgar as falhas.

Ao final, o presidente da Câmara Carlinhos do Marcondes solicitou que o grupo de mães elabore uma pauta objetiva, com as demandas mais urgentes listadas, para ser entregue ao prefeito em reunião marcada para os próximos dias. Ficou acordado que a Câmara acompanhará o encontro e cobrará encaminhamentos imediatos, especialmente quanto à contratação emergencial de profissionais, reorganização da fila de espera e implementação dos projetos já aprovados. A sessão terminou com o compromisso coletivo de transformar o clamor das mães em ações concretas — sem mais promessas vazias, mas com fiscalização contínua e corresponsabilidade de todos os poderes.

Redação

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