No Ceará, 74 mil pacientes do SUS aguardam consultas que poderiam ser realizadas por planos de saúde
Cerca de 74 mil cearenses aguardam consultas médicas no SUS em especialidades como ortopedia, oftalmologia, ginecologia, cardiologia, oncologia e otorrinolaringologia. A informação é da Secretaria da Saúde do Ceará. Essas áreas são prioritárias no programa federal "Agora Tem Especialistas", que propõe que planos de saúde quitem dívidas com a União oferecendo atendimentos a pacientes do SUS.
A maior fila de espera por consultas no Ceará é na ortopedia, com 21 mil pacientes, seguida por oftalmologia (21 mil), ginecologia (16 mil), otorrino (14 mil), cardiologia (2 mil) e oncologia (200). As especialidades foram priorizadas pelo programa federal por serem as mais demandadas. A alta procura por ortopedia e oftalmologia se deve ao envelhecimento da população e traumas. Já a fila de oncologia é menor devido à urgência dos casos e à ampliação do atendimento pelo Estado.
As filas na saúde pública do Ceará enfrentam também problemas burocráticos, como registros desatualizados com pacientes sem indicação ou já atendidos. Segundo a Secretaria da Saúde, a Central de Regulação realiza a triagem para priorizar os casos reais, com apoio de profissionais treinados. Há ainda planos de unificar as filas estadual e municipal para melhorar a eficiência dos atendimentos, mas sem prazo definido para a implementação.
O programa "Agora Tem Especialistas" determina que o diagnóstico no SUS deve ocorrer em até 60 dias após a suspeita de um problema de saúde. Para casos de câncer, o prazo é reduzido para 1 mês.
Em Fortaleza, as filas por exames na rede municipal são extensas, especialmente para eletrocardiograma (ECG), com 314 mil pacientes na espera. Também há longas filas para tomografia (35 mil), ressonância magnética (15 mil) e mamografia (sem número divulgado). A secretária de Saúde, Riane Azevedo, afirmou que medidas estão sendo estudadas, como instalar aparelhos de ECG nos postos de saúde e treinar técnicos para agilizar os atendimentos.
Etapas do atendimento médico
O programa Agora Tem Especialistas busca garantir um atendimento médico integral, reduzindo o tempo de espera não só para consultas, mas também para exames especializados. Segundo Breno Novais, a proposta é que o paciente, ao ser encaminhado para um especialista, já realize exames como tomografia ou ressonância, quando necessário, de forma imediata. A integração entre consulta e exames pretende agilizar o atendimento e diminuir as filas.
O programa Agora Tem Especialistas terá fluxo direto com o Ministério da Saúde, que definirá as ofertas de atendimento. O governo também pretende usar dívidas de planos de saúde com o SUS — geradas quando clientes são atendidos na rede pública — como forma de compensação. Além disso, prevê-se a troca de dívidas de hospitais privados e filantrópicos por serviços especializados, conforme explicado pelo ministro Alexandre Padilha.
Hospitais que não têm dívidas também podem participar e receber créditos, caso abram as portas para um paciente do SUS que esteja esperando uma cirurgia ortopédica, geral, uma biópsia, consulta especializada, ressonância ou tomografia.
Alexandre Padilha
Ministro da Saúde
As operadoras de planos de saúde no Ceará ainda avaliam a participação no programa Agora Tem Especialistas, aguardando a abertura do edital. Já entre os hospitais filantrópicos, as Santas Casas de Fortaleza e Sobral confirmaram adesão e ampliarão o acesso de usuários do SUS a serviços especializados. Segundo o secretário Mozart Sales, a implementação no Ceará começa em agosto e será intensificada em setembro, com foco na redução do tempo de espera e garantia de tratamento adequado.
Hospitais privados que participarem do programa federal devem realizar ao menos R$ 100 mil em serviços mensais; caso não cumpram 90% da meta em 3 meses, serão multados, e em 6 meses, excluídos do programa. Enquanto isso, o Ceará também combate as longas filas cirúrgicas por meio do credenciamento de hospitais privados via edital da Sesa, com R$ 77 milhões investidos. Segundo a secretária Tânia Mara, as cirurgias já começaram e os hospitais são avaliados tecnicamente antes da autorização.